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segunda-feira, fevereiro 23, 2004

22 

Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando (...)
estremeces como um pensamento chegado. (...)
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.
 
Quando as folhas da melancolia arrefecem (...)
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio. (...)
— não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
 
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta (...) qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é (...) o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.



Herberto Helder (in A Colher na Boca, excerto do poema "Tríptico")


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