terça-feira, abril 13, 2004
O Sonho de Fernando d'Almorol
Cara Berna,
Ontem tive um sonho. Sonhei que as muralhas de Lisboa, ou do que devia ser Lisboa, estavam pintadas de vermelho vivo, quase brilhante; o ambiente, esse era também quase medieval, sem que fosse denunciado qualquer traço de mau cheiro ou lama nas ruas. Mesmo assim julgava estar na Lisboa de um século qualquer que não este. Achei que havia um erro de programação ou memória da minha parte, visto que não haviam colinas adjacentes, mas tão só aquela em que me encontrava.
Reparei que ao redor da muralha circulavam pequenos pontinhos - como estava longe, não era fácil reconhecer o que era toda aquela actividade.
Comecei a descer a rua (…?). Na verdade não havia nenhuma rua que pudesse servir de referência, nem tão pouco a costa do castelo ou o rio estavam nos sítios onde estão hoje. Como iria sair dali agora? Palmilhei alguns quintais e hortinhas até chegar suficientemente perto para ver com toda a nitidez que os pontinhos eram homens, com caras sisudas e suadas - de ar pouco à vontade lá andavam eles sem intenção e com uma única motivação, a de encontrar alguém, e tinham todo o ar de querer encontrar as mulheres que estavam sentadas em pequenas reentrâncias da muralha, num espaço tão pequeno que não deveria ultrapassar o tamanho de um pequeno tijolo.
Aí estavam elas. Mulheres de todas as cores e feitios, umas com chapéu, outras sem chapéu, a equilibrarem-se de uma forma quase profissional em cima daqueles pequenos tijolos - umas riam, outras não, mas mesmo aquelas que riam, não o faziam com a boca toda, parecia que já tinham desenvolvido uma técnica diferente de rir sem parecer que riam. Faziam o que podiam para viver, mesmo em pequenos ridículos tijolos. Reparei, horas depois de me juntar ao “grupo que circula”, que haviam algumas mulheres que desapareciam sem que eu pudesse ver como tinham dali saído. Mais uma volta dada, que pelas minhas contas demoraria cerca de 1 hora e 45 minutos a ser completa, e nada via, a não ser algumas mulheres novas a tomar o lugar daquelas que misteriosamente desapareciam. Eu tinha agora uma motivação extra para ali estar, ver como saíam daquela altura assustadora.
Uma delas fez-me um sinal com o dedo e com a boca - foi como se fosse um cumprimento e não propriamente um convite.
Encetei de imediato uma nova fase do meu círculo, o do desejo, e senti-me a ser levado por uma espécie de luxúria quente que ao mesmo tempo me excitava de uma maneira tão estranha que pensei que desmaiava. Nunca me tinha sentido assim antes.
Sempre sonhei com aquilo.
Acordei um homem igual.
Cumprimentos à minha querida Berna.
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Ontem tive um sonho. Sonhei que as muralhas de Lisboa, ou do que devia ser Lisboa, estavam pintadas de vermelho vivo, quase brilhante; o ambiente, esse era também quase medieval, sem que fosse denunciado qualquer traço de mau cheiro ou lama nas ruas. Mesmo assim julgava estar na Lisboa de um século qualquer que não este. Achei que havia um erro de programação ou memória da minha parte, visto que não haviam colinas adjacentes, mas tão só aquela em que me encontrava.
Reparei que ao redor da muralha circulavam pequenos pontinhos - como estava longe, não era fácil reconhecer o que era toda aquela actividade.
Comecei a descer a rua (…?). Na verdade não havia nenhuma rua que pudesse servir de referência, nem tão pouco a costa do castelo ou o rio estavam nos sítios onde estão hoje. Como iria sair dali agora? Palmilhei alguns quintais e hortinhas até chegar suficientemente perto para ver com toda a nitidez que os pontinhos eram homens, com caras sisudas e suadas - de ar pouco à vontade lá andavam eles sem intenção e com uma única motivação, a de encontrar alguém, e tinham todo o ar de querer encontrar as mulheres que estavam sentadas em pequenas reentrâncias da muralha, num espaço tão pequeno que não deveria ultrapassar o tamanho de um pequeno tijolo.
Aí estavam elas. Mulheres de todas as cores e feitios, umas com chapéu, outras sem chapéu, a equilibrarem-se de uma forma quase profissional em cima daqueles pequenos tijolos - umas riam, outras não, mas mesmo aquelas que riam, não o faziam com a boca toda, parecia que já tinham desenvolvido uma técnica diferente de rir sem parecer que riam. Faziam o que podiam para viver, mesmo em pequenos ridículos tijolos. Reparei, horas depois de me juntar ao “grupo que circula”, que haviam algumas mulheres que desapareciam sem que eu pudesse ver como tinham dali saído. Mais uma volta dada, que pelas minhas contas demoraria cerca de 1 hora e 45 minutos a ser completa, e nada via, a não ser algumas mulheres novas a tomar o lugar daquelas que misteriosamente desapareciam. Eu tinha agora uma motivação extra para ali estar, ver como saíam daquela altura assustadora.
Uma delas fez-me um sinal com o dedo e com a boca - foi como se fosse um cumprimento e não propriamente um convite.
Encetei de imediato uma nova fase do meu círculo, o do desejo, e senti-me a ser levado por uma espécie de luxúria quente que ao mesmo tempo me excitava de uma maneira tão estranha que pensei que desmaiava. Nunca me tinha sentido assim antes.
Sempre sonhei com aquilo.
Acordei um homem igual.
Cumprimentos à minha querida Berna.
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