As Barbas do Hernani

Turn on the Bright Lights foi o princípio e o fim. Nada parecia tão bom. A beleza das raparigas, o amor abandonado, a doçura dos rapazes, o desejo tenso, a urgência absoluta de desesperar, a urgência absurda de fugir, de levar-te para o meu quarto, de pesar-te no coração, com um amor subliminal, de enterrar o amor, de enterrar a distância, de fazer luto por um desespero alado, cheio de beleza. Hipnotizada, queria que este álbum desaparecesse. E os Interpol que se retirassem, que queimassem os instrumentos e desaprendessem a escrita para sempre.

Em Setembro chega Antics. Alguma coisa tem andado a ser cozinhada. Com medo vou ouvindo as amostras do novo álbum em pequenas doses. De cada vez gosto mais.

Os Interpol são a maior revelação destes últimos anos da minha vida. Talvez esteja a exagerar, mas gosto de dizê-lo. Hipnotizada, gosto muito de dizê-lo.

Carlos Paredes só conheceu a tecnologia do CD com «Espelho de Sons», e com algum susto dizia: «Agora é que se ouvem bem as imperfeições». Continua no entanto perfeitamente perceptível nestas gravações a sua respiração por entre as notas. Oiçam com cuidado. É demasiado bonita. E vive.

Carlos Paredes morreu hoje. Oiçamo-lo sempre.

Já há algum tempo que vivia com este pressentimento: Nunca devia ter deixado de morar em Benfica.

Neste mar revolto de más notícias, nesta débil barcaça deprimida de Santanás Lopes, trago-vos um feixe de luz que espero vos trespasse e vos mostre que vale a pena ter esperança. Este foi o ano dos cancelamentos de concertos em Portugal: David Bowie, Iggy Pop, Mão Morta, The Roots... Mas há boas notícias: o piroso Eagle-Eye Cherry foi cancelado. E, mais bonito ainda, a foleira Pink foi cancelada. E não por incompetência da promotora! Nenhuma sobreposição religiosa ditou a anulação deste terrível acontecimento. A promotora do evento prontamente informou que o cancelamento do concerto da suína se deveu à fraca venda de bilhetes. É tão bom. Tão bom. São alegrias atrás de alegrias. Foi pena a Macy Gray ter conseguido enfiar-se num festival, senão... Num doce sonho imagino-a a ser corrida na fronteira por um agente da autoridade preconceituoso. E a Alanis engraxou-nos quando decidiu começar aqui a tour, senão... Para a ajudar a alcançar outro patamar da sua pseudo-espiritualidade, teríamos ido muito além de um singelo corte de cabelo, cortando também, e porque não, a iluminada cabecinha. Agora só falta banirmos a Anastacia do top de vendas e consciencializar as forças policiais, não esteja ela a pensar vir cá balir ao vivo.

Se a Ferreira Leite fosse uma carta de Magic the Gathering, seria Magibomba de Pirita. A inscrição na carta reza:

«Derrete aquilo que jamais se solidificou». (PSD)

Se o Santana fosse uma carta de Magic the Gathering, seria Punhos de Bigorna. A inscrição na carta reza:

«A mente de GRON (calão PSD para 'grunho') fervilha com as possibilidades, mas é melhor nem comentar a maior parte delas».

Se o Durão fosse uma carta de Magic the Gathering, seria o Trasgo Marrom. A inscrição na carta reza:

«Numa curiosa viragem do destino, uma das criaturas mais maçantes do multiverso foi trazida para o lugar onde seria capaz de causar os maiores estragos».