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domingo, março 13, 2005

Provavelmente o Maior Músico de Todos os Tempos 


Johann, um jovem tenor de corte, casa-se em 1767 com Maria Magdalena, uma viúva de 21 anos. No dia 17 de Dezembro de 1770, em Bona, nasce Ludwig van Beethoven.

O pai de Ludwig cedo descobriu o talento extraordinário do filho. Deu-lhe aulas de piano e violino, e desde logo tentou popularizá-lo como uma criança prodígio, copiando o caso de Mozart. Em alguns dos primeiros concertos e recitais, os cartazes chegaram mesmo a anunciar Ludwig dois anos mais novo do que era na realidade. Resultado de uma família disfuncional liderada por um pai com uma certa propensão para o alcoolismo, desde muito novo que a sua personalidade e excentricidade genuínas se começaram a desenvolver. Já adulto, as suas famosas flutuações de humor e ataques de raiva eram derivados muitas vezes da consciência da deterioração do seu ouvido, que o levavam a evitar as multidões e a procurar tranquilidade na natureza nos longos passeios solitários que dava pelos arredores de Viena. Mas era também bastante intolerante para com toda a mediocridade, a dele e a dos outros. A sua vida foi uma procura constante de perfeição, personificada na música que criou, que alterava e rescrevia durante anos a fio até conseguir aceitá-la como o mais próximo da perfeição que conseguia alcançar.

Mudou-se para Viena aos 22 anos, e rapidamente se tornou popular enquanto professor de piano. Durante esses primeiros anos em Viena, fez aparições raras como pianista, e apenas em círculos privados. Das obras importantes que escreveu neste período, destacam-se várias sonatas para piano, incluindo a famosa 'Pathetique'. Estas obras revelam fortes influências dos modelos clássicos de Haydn e de Mozart, mas também exibem já algumas idiossincrasias, como o dinamismo das passagens dos fortissimos para os abruptos pianissimos.

Beethoven aventurou-se pela primeira vez na composição de uma sinfonia em 1799. Em 1800, a Sinfonia No. 1 foi apresentada como parte de um concerto público, e dedicada ao Barão van Swieten, considerado o juiz do gosto musical de Viena.

Era comum os compositores fazerem tournées por diferentes cidades, mas Beethoven fez apenas três. O agravamento da sua surdez provavelmente desmotivou-o a fazer outras. Pensa-se hoje que a sua surdez terá sido causada por uma otosclerose aliada à degeneração do nervo auditivo. Seguindo o conselho de um médico, chegou a mudar-se angustiado para Heiligenstadt, mas apercebendo-se do agravamento da surdez, rapidamente voltou para Viena. Não é de estranhar que após este período de extremo sofrimento a grande obra que se seguiu tenha sido de carácter religioso - o seu único oratório, Christus am Ölberge (Cristo no Monte das Oliveiras). A esta obra pertence a famosa 'Hallelujah' que permanece uma das mais conhecidas e mais interpretadas peças corais do mundo.

Após ter voltado de Heiligenstadt, a situação aflitiva da surdez e a incapacidade de manter relações amorosas felizes levaram-no a criar música cada vez mais interiorizada num estilo cada vez mais próprio. Em 1803 começou a trabalhar na Sinfonia No. 3 (Eroica), originalmente dedicada a Napoleão Bonaparte. Tal como este, era revolucionária, uma obra sem precedentes na história da música sinfónica, rompendo com o molde ao estabelecer novas e convincentes formas e lógicas. Um ano depois chegariam notícias de Napoleão - o grande defensor dos direitos do povo tinha-se auto-proclamado Imperador. Em fúria, Beethoven riscou da sua cópia da sinfonia o nome de Bonaparte com tal violência que partiu a caneta - «Será ele agora mais do que humano?»

Seguiu-se um período de grande criatividade, que viu surgir numerosas obras-primas – várias sonatas, as sinfonias nos. 4, 5, 6, 7 e 8 e a primeira versão da única ópera que compôs, Fidelio, uma reacção patriótica contra o imperialismo francês altamente influenciada pelas políticas revolucionárias da altura.

A Quinta Sinfonia é talvez a sua obra mais famosa, a par com a Nona, e efectivamente agarra-nos pela garganta. Num todo expressivo e palpitante de energia rítmica, Beethoven integra magistralmente um grande número de fragmentos muito diferentes entre si. Os quatro movimentos da sinfonia são um prodígio de alternância, desde a construção tensa do primeiro à solenidade funerária do segundo, passando pela crispação instrumental do terceiro para chegar ao tom cerimonial e à apoteose do quarto. É duplamente surpreendente devido ao modo como começa e como acaba, por não ter introdução e finalizar com um invulgar crescendo de 50 compassos (o que durante o século seguinte foi considerado o arquétipo de como devia ser finalizada qualquer sinfonia). Muito se tem escrito sobre este quarto movimento e a sua hipotética ligação a uma melodia infantil muito popular na altura, "A, B, C, die Katze Lief im Schnee" ("A, B, C, o Gato Correu pela Neve"); é uma teoria firme, dado o gosto do compositor por melodias populares e pela criação de canções como a célebre 'Para Elisa' ('Für Elise').

A Sinfonia No. 6 (Pastoral) é um retrato da paisagem campestre de Heiligenstadt e um sublime hino à Natureza.

A Sinfonia No. 7 foi recebida por alguns críticos musicais da época como «a obra de um bêbado», apesar de Beethoven, já com quarenta anos, se encontrar no auge das suas capacidades, e apesar da surdez galopante. Foi no entanto uma sinfonia muito bem recebida pelo público vienense.

A Sinfonia No. 8 foi concluída durante uma visita a Linz. O Verão tinha-o levado às termas de Teplitz, onde conheceria Goethe, e a viagem a Linz tinha como finalidade convencer o irmão a acabar a estranha relação que mantinha com Therese Obermeyer, com quem o irmão acabaria por casar nesse mesmo ano. Quaisquer que fossem as suas ansiedades familiares ou pessoais, a Oitava foi criada como uma obra de claro optimismo. Para sua infelicidade, foi recebida pelo público com grande frieza, que preferiu outras obras suas apresentadas na mesma noite.

A morte de um dos irmãos acarretou algo que nem a trágica surdez nem as armas de Napoleão tinham conseguido – uma crise criativa que quase o levou a deixar de compor. Seguiu-se a disputa pela custódia do sobrinho, um processo que se revelou bastante abrasivo. A mãe da criança acusava-o continuamente de ser «um solteirão louco e surdo». Beethoven adoeceu muitas vezes em resultado deste processo, e só conseguiu a custódia do sobrinho quando este fez 16 anos.

A obra final dentro do género sinfónico, a Sinfonia No. 9 (Choral), é considerada por muitos a sua mais famosa obra, e A OBRA-PRIMA por excelência. Debussy disse mesmo que a Nona Sinfoniae é o pesadelo dos músicos que vieram depois de Beethoven, que a tomam como um ideal a ser alcançado e, finalmente, impossível. É sem dúvida uma das mais impressionantes e tremendas criações musicais de todos os tempos, e tem influenciado extraordinariamente a História da Música desde a sua criação até aos dias de hoje. Pela primeira vez a voz era introduzida numa sinfonia, uma ideia que já pairava na mente do compositor há algum tempo, fazendo uso daquilo que ele descrevia como uma canção pia ao modo antigo. Seria esta a atmosfera recitativa e inquietante de 'An die Freude' ('Ode à Alegria'), um poema de Schiller musicado na última parte da sinfonia. Esta peça tornou-se entretanto o hino europeu e em geral um símbolo de paz entre as nações, usada nos Jogos Olímpicos e em muitas outras celebrações colectivas. Por esta altura, Beethoven já era completamente surdo há anos. Na primeira exibição desta sinfonia, insistiu em dirigir os músicos, mas sem que ele soubesse o verdadeiro maestro dirigia de longe. Sem se aperceber do estrondoso aplauso que o aclamava no fim do concerto, um dos cantores levou-o pelo braço e virou-o para o público, para que o pudesse ver.

As constantes preocupações com o sobrinho e as doenças assombraram os últimos anos da sua vida, dedicados quase que exclusivamente à composição de quartetos de cordas. Foi nesse cenário que produziu algumas das mais profundas e visionárias obras, como Grande Fuga (Op.133), Quarteto em Dó sustenido menor (Op.131) e Quarteto em Fá maior (Op.135). Em Março de 1827 faleceu em casa, enquanto compunha a Sinfonia No. 10. Mais de 20.000 pessoas compareceram ao funeral no cemitério de Währing. Em 1888 os seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Central de Viena.

Beethoven foi de facto único enquanto compositor e indivíduo. Era já considerado uma figura quase mítica pelos seus contemporâneos, graças certamente aos seus invulgares métodos de trabalho, ao seu isolamento mórbido e à nobreza da dedicação total à sua arte. As suas nove sinfonias e as trinta e duas sonatas para piano são actualmente peças essenciais de estudo para qualquer estudante de música em qualquer parte do mundo. Hoje é visto como a figura musical dominante na primeira metade do século XIX, e desde aí dificilmente terá algum compositor importante escapado à sua influência. Hoje continua a ser o músico dos músicos, e as gravações das suas obras figuram entre as mais vendidas no mercado discográfico. A partir do sucesso que alcançou combinando tradição, descoberta e expressão pessoal, pelo respeito que as suas obras merecem entre os músicos e pela popularidade de que gozam em todo o mundo, ele é talvez o mais admirado músico na História da Música Ocidental.

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