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sexta-feira, agosto 27, 2004

O Mestre do Funk Cubista 

A expressão "real gone" pretende descrever um lugar ou um tempo fora de alcance: uma mente perdida, um líder renegado, a perda do amor, morte, desejo, abandono, fuga. Estes são os temas do disco inspirado pelos tempos que vivemos, tempos fora de tempo, tempos de luxúria e alta voltagem («I feel like a preacher waving a gun around.» (in "Shake It")).

"Real gone" é também uma expressão usada por músicos para descrever o momento em que se perdem enquanto tocam, o mesmo sítio onde depois voltarão a encontrar-se.

Segundo parece, Real Gone vai ser o primeiro álbum de Tom Waits sem piano. O álbum conta com 15 faixas, e descobre o novo híbrido musical de Waits (moldado a partir de blues primários, do balanço do rock-steady jamaicano, de ritmos africanos e latinos) e, principalmente, aquilo a que Waits chama "funk cubista".


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domingo, agosto 22, 2004

Eu gosto mesmo muito dos Deftones 



Em resposta ao Desconhecido que insinuou que eu devia achar os Deftones «uma porcaria», publicamente afirmo e até repito:
Eu gosto mesmo muito dos Deftones.
Desconhecido, vejo os Deftones, desde há MUITO tempo, como uma colisão única de fúria e melodia, de camadas e camadas de ambientes sonoros cheios de textura, cheios de desejo, amargos e em constante desassossego. Também gosto muito do enfastiado Chino Moreno, é um dos meus vocalistas preferidos, e as suas abstracções textuais são cada vez mais ilustradas, dele flutuam quando murmura, dispara-as quando grita. Tudo isto resulta num metal sombrio e lírico, tão erótico quanto violento, tão energético quanto sussurrado, tão obstinado quanto doce, tão luxuriante quanto minimal, e é do melhor que tenho visto.
E o que de mau se pode esperar de uma banda que já fez versões de duas canções dos Depeche Mode ("Sweetest Perfection" e "To Have & To Hold"), de "The Chauffeur" dos Duran Duran, e que tem como influências primordiais bandas como The Cure ou The Smiths?

Tenho os álbuns todos dos Deftones, e se tivesse uma t-shirt deles talvez até a usasse.

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quinta-feira, agosto 19, 2004

Pau contra Pedra 



De volta a Lisboa, o rústico de pau espreita-a, quer sacudi-la, quer esmagá-la, reduzi-la a rebos. Ele sabe que ela foi construída sobre a antiga mesquita muçulmana. Ele sabe que a Capela de Bartolomeu Joanes, do lado norte da entrada principal, o claustro dionisino, apesar da sua planta irregular, se inclui na tipologia de claustros góticos portugueses. Ele sabe que nas duas campanhas de restauro da primeira metade do século XX, o objectivo principal foi a "restituição" da atmosfera medieval a todo o conjunto. Ele sabe e não gosta.

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terça-feira, agosto 10, 2004

I Want this Fantastic Passion 

Segundo os próprios, a intenção inicial dos Franz Ferdinand era fazer música que fizesse as raparigas dançar. Tão lacónico quanto isto. Conhecendo apenas o single "Darts of Pleasure", e sem grande entusiasmo mas com grande expectativa, fui vê-los ao Festival do Sudoeste, esperando ser arrebatada por um incontrolável bicho carpinteiro.

O que eu vi nos Franz Ferdinand foi, como podia ter previsto, muito mais do que isso. Isto porque no seu núcleo reside algo tão apelativo para o cérebro como para os pés. Estes escoceses, já considerados pela generalidade da crítica indie como a banda-revelação do ano, protagonizaram um dos melhores concertos que já vi. Muito se tem falado sobre a sua emergência como se de um milagre se tratasse - messianicamente chegaram para abrir caminho e mostrar que a Grã-Bretanha conseguirá combater a frente "White Strokes", que ainda é possível surpreender, que há definitivamente coisas NOVAS a fazer apesar de tudo já ter sido inventado. E isto apesar de constantemente nos fazerem lembrar alguma coisa remota... Hmmmmmm... Mas quem??... No concerto lembrei-me muitas vezes dos The Fall, até dos Joy Division, mas principalmente de Adam and the Ants. Outros lembraram-se dos Radiohead, dos The Cure, dos Pulp e dos Talking Heads. Mas a verdade é que os Franz Ferdinand estão à frente na sua própria onda (Art Wave?), e a deles é mesmo a mais fresca.

Saí do concerto com a impressão que estes quatro magricelas determinados iriam acabar por mudar de alguma maneira a face da música moderna. Insidiosamente subvertendo os clichés musicais dos anos 80, do pós-Punk, do Disco, do Pop, entraram de rompante nos tops de todo o mundo, trazendo de volta um tipo de rock cerebral 100% dançável. Há quem diga que têm o acento dramático que falta aos The Rapture e a energia galvanizante que falta aos Interpol. Eu não, a mim ninguém me apanha a dizer que aos Interpol falta alguma coisa. Fico-me por dizer que senti o acento e fui devidamente galvanizada pelos Franz Ferdinand e pela sonoridade única que lhes sai directamente do coração.


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segunda-feira, agosto 02, 2004

Zeca faria hoje 75 anos 

O Pai era José, a Mãe era Maria. Nasceu a 2 de Agosto na freguesia da Glória. Em Aveiro.

Para breve e para nosso consolo fica o lançamento em DVD do memorável concerto no Coliseu dos Recreios de Lisboa, gravado em 1983. É o único registo videográfico disponível de um momento irrepetível: sendo o primeiro concerto de José Afonso como músico profissional foi também o último. Morreria em Setúbal com 57 anos. Foi professor, cantor, poeta, andarilho, revolucionário, e permanece como figura de grande destaque na cultura portuguesa, apesar da sua herança ser tantas vezes menosprezada.

Na noite do Coliseu, tensa e inesquecível, há um momento em que a voz do cantor denota um estrangulamento breve, numa passagem da Balada do Outono que soava já a epitáfio: «Águas das fontes calai / Ó ribeiras chorai / Que eu não volto a cantar». Muitos dos presentes não conseguiram esconder as lágrimas e ainda hoje, ao ver e ouvir este espectáculo, sentimos o arrepio generalizado que marca esse momento.


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